Elvis (2022)

A cinebiografia de Elvis Presley dirigida por Baz Luhrmann é analisada pelo discente Lucas Aaron, que destaca os pontos altos da obra.

Críticos:

Lucas Aaron

A extravagante ode de Baz Lurhmann a Elvis Presley



Um dos maiores símbolos da américa e do século passado titula uma cinebiografia agitada e extravagante. E se o Rei já era extravagante em sua essência, não poderia haver diretor mais apropriado do que Baz Lurhmann para carregar o manto de Elvis nos cinemas. É um casamento perfeito.


O longa, carregado pelas características e pelo já familiar estilo do diretor perpassa pela vida de Elvis Presley de maneira exorbitante, e os adjetivos mesmo que possam parecer exagerados não o são, muito pelo contrário. Provavelmente Lurhmann tinha como principal objetivo engrandecer a seu homenageado ao máximo e para isso ele constrói seu filme de uma maneira nem um pouco tradicional para cinebiografias, a começar pelo narrador.


Mesmo que Elvis seja um filme com clichés de cinebiografias, até pelo escopo clássico de narrar acontecimentos do nascer até a morte do biografado é na figura do narrador que o longa muda muito o que se é esperado de um filme desse tipo. Ao colocar a vida de Elvis no ponto de vista de seu empresário, o coronel Tom Parker (Tom Hanks), Baz Lurhmann cria uma espécie de filme memória amarrado por uma montagem livre e muito criativa.


O coronel narra os acontecimentos da vida de Elvis em uma espécie de delírio o que cria uma grande ode a figura de Elvis, a narração, mesmo que de um Tom Hanks fazendo um sotaque carregado, somada ao frenesi da montagem leva a história para frente de maneira eficaz. E ao colocar a figura do coronel como narrador, que já de início se apresenta como o possível vilão dessa história, o diretor já avisa para o espectador que aquilo que ele está prestes a ver será diferente. Essa, de todas as escolhas criativas de Baz Lurhmann, é o maior triunfo de Elvis.


E a figura do coronel é tão rica quanto Elvis, sendo ponto crucial do filme que foca quase que exclusivamente o desenvolver da trama na relação dos dois. O coronel não seria nada sem Elvis e Elvis não seria nada sem o coronel, sendo a figura do showman ilusionista, simbolizada pelo empresário do cantor, essencial para o sucesso e a trajetória do Rei do Rock, mesmo que o personagem de Hanks seja apresentado como vilão o mesmo nunca o é em sua plenitude o que gera um personagem repleto de remorso e de certa ignorância sobre a relação abusiva e a influência truculenta que exercia sobre Elvis.


E as escolhas criativas são várias, algumas próprias de cinebiografias, como situar eventos em momentos diferentes do que o que aconteceu realmente, ocultar alguns fatos ou personagens consideravelmente importantes da vida de Elvis etc... até outras menos tradicionais, mas também muito interessantes, vindas do diretor e sua equipe de editores, Matt Villa e Jonathan Redmond, como a de recriar o nascimento de Elvis conforme uma história em quadrinhos e também as fusões de cenas e temporalidades que transcorrem o filme.


Agora, a melhor parte do longa, claro, talvez mencionada com demora nessa presente crítica é Elvis, vivido por Austin Butler que muito claramente se empenhou exaustivamente para o papel. O ator encarna na tela a figura de Elvis e o faz de maneira espetacular. O filme perpassa por 3 décadas da vida do Rei, e o mais interessante é como o ator consegue se empenhar bem em fazer os “3 Elvis” presentes no longa com uma aptidão muito maior ao retratar Elvis em seus últimos anos. Claro sendo muito bem feitas as recriações de shows e apresentações do cantor, sendo importante ressaltar o trabalho do ator em personificar a voz de Elvis no início de sua carreira, nos anos 1950.


Ao se tratar da música, Baz Lurhmann parte para outras escolhas criativas como a de mesclar músicas de artistas modernos ao longa, como Eminem ou Doja Cat por exemplo. Fato que pode parecer estranho para alguns, mas se tratando do diretor não é nenhuma surpresa e também não atrapalha a experiência do que significa Elvis Presley. E não deixa de ser uma sacada importante ao se falar de Elvis, artista que já percorreu os mais diversos ritmos e estilos, como o rock, pelo qual ficou conhecido, o country, o blues e o gospel e que será lembrado justamente por isso, a integração que um dia nele se manifestou.


E o que significa Elvis Presley? É isso que o filme tenta responder, mais perguntando do que respondendo, qual é a relevância hoje de uma estrela que já se foi há mais de 40 anos? É aí que o filme ilustra e recria, de maneira talvez até um pouco didática, mas muito engenhosa, tudo o que Elvis significou através das décadas em que esteve vivo, a influência da música negra, o primeiro grande ídolo adolescente, o rebelde revolucionário, o romântico, o cidadão de bem, o integracionista, o ator mais bem pago dos anos 1960 até o homem mais protegido que o presidente dos Estados Unidos.


Nessas constatações o filme busca relembrar o que foi Elvis e criar uma figura mística comparado a um super herói ou um deus. E a música, tão importante para o longa vai muito além de Elvis, busca-se enfatizar aqueles que influenciaram ele, sendo presentes no longa figuras dos primórdios do rock como Little Richard e Sister Rosetta Tharpe. Focando bastante o filme muito nas influências negras na musicalidade de Elvis, ponto que carrega muitos momentos importantes da trama.


A questão racial é importantíssima para o desenvolver do longa, tendo um enfoque muito grande na obra que mistura a vida de Elvis com a história dos Estados Unidos da época, não tão diferente de hoje. Sendo assim o tema gera grandes momentos como a recriação do especial de TV que Elvis fez para a NBC em 1968 e a retomada de sua carreira “afundada” pelos numerosos filmes que fez em Hollywood. Sendo a carreira de Elvis nos cinemas uma frustração que o mesmo tinha, o que é mencionado no longa, mas que talvez simplifique uma década da história de Elvis.


Provavelmente a única tribulação enfrentada pelo longa seja o tempo. Baz Lurhmann faz menções a diversos fatos da vida de Elvis que acabam não sendo desenvolvidos na trama, seguramente por “falta” de mais alguns minutos. Em um filme já grande, com mais de 2 horas e 30 minutos, o diretor escolhe contar para o público o máximo de informação que conseguiu agrupar sobre Elvis, e, claro muita coisa fica faltando. Essa “falta de tempo” gera personagens secundários que poderiam ser melhor aproveitados como por exemplo Priscilla, vivida por Olivia DeJonge, ou Vernon Presley, interpretado por Richard Roxburgh.


Elvis é um longa de memória que ressalta a figura de seu biografado, criando uma grande homenagem aquele coroado como o Rei do Rock. E é isso que Baz Lurhmann faz, uma grande coroação a Elvis, só que com um toque contemporâneo. E em seus últimos minutos, quando a voz de Presley ecoa na sala de cinema somada da mescla de imagens reais do cantor que o filme se compreende em toda sua potencialidade e sua mensagem, não deixar esquecer quem foi o homem, a lenda e a voz única que marcou gerações, sendo assim, como disse John Lennon “Antes de Elvis não havia nada”.