Hiroshima, mon amour (1959)

História sobre um relacionamento amoroso entre uma mulher francesa e um japonês contada através do recurso literário do fluxo da consciência. Um clássico absoluto do cinema moderno.

Críticos:

Danyel Viana
Maria Vitória Izoton


Hiroshima, meu amor de 1959 dirigido por Alan Resnais começa com a imagem de marcas que de primeira parecem feitas no chão como cicatrizes deixadas por um acidente, e permanece nessa imagem estática enquanto os créditos passam, essa imagem remete a pontos ou cicatrizes em um lugar que houve um grande impacto, um paralelo claro de como traumas afetam a memória dos dois protagonistas deixando cicatrizes em suas mentes, mas como a cidade a mente de ambos se reconstrói em volta dessas dores, subindo edificações afetivas, pontes emocionais e lares amorosos, mas como toda cidade pós guerra que nunca volta ser o mesmo assim também a mente deles.


O filme começa nos apresentando cortes de imagens de arquivos, de outros documentários e filmes ficcionais que tentaram recriar o ataque a cidade de Hiroshima em 1944, enquanto essas imagens são exibidas os dois protagonistas dialogam sobre como a francesa não conhece Hiroshima por mais que ela diga que sim, o diretor faz isso para levantar uma discussão que volta durante o filme todo, de como uma cidade como Hiroshima que foi destruída, para um turista ela possa parecer reconstruída mas para um morador antigo ela ainda esteja em pedaços.


A maneira como é retratado a dor do passado nesse filme é lindo. As memorias se tornam algo material quase como se pudéssemos dizer que cidades são as nossas lembranças com fundação e alicerce. Quando a francesa começa a contar do seu passado em Nevers na França para o japonês que a questiona sobre o porque dela detestar tanto essa cidade. Junto com ele vamos descobrindo o motivo dela odiar tanto o lugar que cresceu e viveu ate os seus 23 anos. Um amor proibido e a sua perca à afetaram de diversas formas à fazendo se lembrar dessa memoria não como a protagonista e sim como alguém que observava tudo que ela vivia.


A solidão presente nesse longa é inerente para a construção da historia em um todo, o filme retrata essa solidão em vários momentos mas um que chama atenção é quando a francesa voltando de um encontro com o japonês, vaga pela cidade vazia e solitária, ela volta para o hotel novo, bonito e moderno mas ainda sim solitário.


A atuação dos atores possui um aspecto muito teatral e as vezes até shakespeariano, mas tudo isso para ajuda na construção do roteiro que possui toda uma dinamicidade e lirismo que lembra muito uma dramaturgia. E esse aspecto nos faz se encantar com esse casal tão diferente em vivência, aspectos físicos e emocionais, mas tão semelhantes quando se trata da forma do lembrar e como lembrar.


Intencionalmente esse foi o primeiro filme de não-ficção do Resnais que se consagra com honra para a sua primeira direção, com uma direção delicada sobre um roteiro tão melancólico e profundo como esse, Hiroshima, mon amour é e será considerado como um dos melhores filmes sobre memoria lançados no século passado.