O Que Fica de Quem Vai (2024)

Em busca da corrente do cunhado falecido, Jackson é atravessado pela difícil rotina como entregador de aplicativo e por lembranças de momentos especiais ao lado de Alex.

Críticos:

Carlos Andreotti

O Que Fica De Quem Vai


Lidar com o luto não é fácil. Lidar com o luto sem ter tempo para isso, estando com as pressões de uma sociedade capitalista o tempo todo sobre você, é mais difícil ainda. Esse é o tema explorado em O que fica de quem vai, obra em que os diretores André Zamith e Vinícius Cerqueira mostram Jackson, um entregador de delivery que não superou a morte de seu amigo, Alex, que aconteceu em um acidente realizando uma entrega, ao mesmo tempo em que é forçado por questões financeiras a continuar trabalhando todos os dias o dia todo.


Nessa impossibilidade do personagem de ter tempo para digerir o que sente, nós espectadores só temos acesso aos seus sentimentos através da percepção dos seus comportamentos, da forma como os outros personagens coadjuvantes da trama se portam com relação a ele e pelos flashbacks de memória do tempo em que Alex ainda estava vivo. Momentos esses que, através da fotografia muito bem pensada e trabalhada, sendo utilizado uma dualidade de cores quentes e com proporção de tela menor nos momentos das memórias, e cores frias e mais espaço de tela nos momentos da atualidade na diegese fílmica, são capazes de transmitir imageticamente essas sensações de felicidade e calmaria, dessa saudade desse tempo passado, em contraste com a melancolia e o caos do momento presente da trama.


Em um gesto de desespero, no tardar de uma noite, Jackson procura no lugar onde Alex se acidentou pelo cordão de cruz que este usava em seu peito no momento do acidente, mas que estava perdido até então. Tal objeto tinha uma grande importância para o protagonista pois seu falecido amigo tinha dito que aquela era a fonte de sua força, que o fazia ser uma pessoa, que pelo menos parecia, ser tão otimista e feliz com a vida, algo que Jackson agora precisava muito. No entanto, apesar de ele encontrar o objeto no final do filme, podemos ver em sua expressão que o efeito que ele procurava não foi proporcionado. O objeto não encerrou seu luto, e como poderia? Afinal, Jackson ainda estava morto, a empresa de delivery ainda não se responsabilizou de nenhuma forma pelo ocorrido e Jackson continua com essa raiva indigesta dentro de si, uma raiva que clama por justiça pelo seu falecido amigo, e por um tempo para sentir seu luto.