Undual (2024)

O contraste e o equilibrio do mundo, Undual traz os personagens Carlos e Miita que compartilham suas individualidades nas diversas formas de afeto.

Críticos:

Alexandre Menezes

Undual


Undual é uma obra sensível e poética que consegue explorar a complexidade das relações humanas por meio de sua estética. O contraste entre Carlos e Miita se contrapõe a um jogo de dualidade e equilíbrio que é evidente em cada aspecto do filme, desde a construção verbal do roteiro até o uso do preto e branco na fotografia.


A escolha de uma fotografia monocromática reforça o tema central do curta: a dualidade. Enquanto o preto e o branco geralmente sinuam uma oposição clara, a presença dos tons de cinza atua como um mediador, sugerindo que essa aparente dicotomia é, na verdade, uma ilusão. As sombras e luzes coexistem, e revelam a complexidade da vida e do afeto. O uso de animações, que dialogam com a poesia do roteiro, adiciona uma camada extra de subjetividade ao filme, permitindo que nos percamos nas nuances da relação entre os personagens. É como se a própria animação fosse uma extensão das palavras, um reflexo visual do que é sentido.


A frase que fecha o curta “concluímos que não estamos só, acordei e te vi no teto”, causa uma sensação de descoberta e de conexão, rompendo com a noção de solidão ao encontrar o outro em um espaço íntimo e simbólico. O teto pode ser lido como uma metáfora para o limite da percepção, o último lugar que se olha ao despertar, onde a presença do outro é inesperada, mas reconfortante.


Undual brinca com a ideia de dualidade, mas também a desafia. O curta sugere que as relações e os sentimentos não são binários ou excludentes, mas sim complexos, e acima de tudo, interdependentes. O final do filme permite que quem assista reflita sobre a impossibilidade de catalogar o afeto, as relações ou a existência humana em simples dualidades.