Memórias, solidão, luto e saudade. É possível que as casas sofram com a partida dos moradores? Que se entristeçam por não estarem mais repletas de vida, cor, sons, hábitos e fé em seus cômodos? Afinal, será que o tempo não perdoa ninguém? Nem mesmo as casas? Divagando entre lembranças, somos levados a refletir sobre essas questões enquanto transitamos pela casa de número 21 e os registros que ela ainda mantém.
Será que as casas também sentem saudades?
Será que as casas também sentem saudades (2023) de Leandro Machado é um curta-metragem de memória afetiva por parte do diretor, mas que qualquer espectador pode se identificar e sentir junto. Ao trazer vários questionamentos sobre se as casas sentem, choram e recordam, Machado se aprofunda no sentimentalismo que uma residência pode conter. Casas não são apenas casas, são receptáculos de memórias, sejam elas alegres ou tristes. O filme indaga se há algo, dessas memórias, que assombram as casas após seus moradores partirem. E é, através dessa questão, que o filme se desenrola em um emaranhado de carinho e saudades.
Com uma estrutura narrada e sem pessoas, a não ser por fotos, a obra deixa ainda mais essa sensação de vazio e falta. Ela lhe convida a imaginar como era quem morava ali, o que fazia aos domingos e como era sua rotina diária, quem amava e quais eram seus programas televisivos favoritos. Machado acerta em cheio um questionamento universal: o que fica de nós (ou dos outros) após partirmos? O filme não é somente sobre casas, mas sim sobre como ficam aqueles que são deixados para trás, condenados a conviver com as pegadas de seus entes queridos. Em quem ou o que eles deveriam se apoiar? E como manter as memórias próximas o suficiente para ainda carregar um pedaço do outro consigo?
As casas guardam, em suas paredes, todos os momentos, as risadas, os choros, as canções e brincadeiras, o afeto e o amor. As casas eternizam, ao seu modo, um pouco das pessoas que passaram por ali. Será que as casas também sentem saudades, é um filme lindo e profundo, que vai muito além de uma fotografia bonita e detalhes técnicos (mesmo que a equipe também tenha acertado muito nesses quisto). Essa obra de Leandro Machado é um soco no estômago e um abraço quente de vó, os dois ao mesmo tempo. A combinação exata de como a saudade se parece.