Bença é uma videoarte que busca honrar a ancestralidade matriarcal de todas as mães pretas que passaram/passam vários tropeços e se mantém firmes. Com a poesia de Day Irê.
A herança matriarcal em “Bença”
Algo culturalmente muito próprio aqui do Brasil é o ato de pedir benção, o que se constitui em uma forma de demonstrar respeito aos familiares mais velhos. Partindo desse pressuposto, o curta de Day Irê e Eric Bruno, explícita desde o título sua proposta matriz: ser uma homenagem a essa figura maternal que é a personagem principal deste documentário.
Desde seus primeiros minutos, “Bença (2024)”, trás consigo uma conexão com uma ancestralidade, o que ocorre por meio de uma poesia recitada ao longo do curta, junto a essa narração três personagens performam uma dança, assim como encenações que trazem esse carácter de reverência. Por meio dessa poesia se é criado uma associação entre o maternal e o divino, compelindo a maternidade a ideia de continuação desse Deus que seria, além de mulher e preta, uma mãe, e estabelecendo assim um elo mais direta com a personagem entrevistada no documentário, e também reforçando seu cunho tributário e afetuoso com essa personagem.
Os breves relatos que essa senhora traz sobre sua vida, revelam um passado marcado por uma vivência familiar conturbada, ela fala sobre um tio que tentou estuprá-la e sobre o abandono de seu pai após a morte de sua mãe, de como fugiu de casa e recomeçou a vida em Cuiabá. Histórias que são contadas em uma mesa para seus netos, que são majoritariamente mulheres, e o documentário busca essas histórias como forma de compreender as cicatrizes que essa personagem carrega, já que seriam também parte desse matriarcal a ser herdado, e por fim, justificando o porque essa senhora é digna de respeito, o porque se deve benção a ela.